Vê-la
Neyl Santos
Há quem passe horas em frente ao Quarto¹,
outros que ficam hipnotizados diante da Monalisa², e ainda aqueles que com o
mundo explodindo não tiram os olhos do Grito³.
Meus neurônios
nunca entenderam tanta admiração, nunca viram sentido nesse tipo de coisa, até
que meus olhos, pobres por natureza, avistaram o que pra mim, não é nada menos
que a obra prima do criador. Minhas retinas foram expostas ao que há de mais
sublime, de mais perfeito. E eu fiquei ali, durante longos instantes,
verificando cada milímetro quadrado daquela figura feminina. Pude então
perceber, a magia transmitida até os meus olhos que funcionaram como meros receptores,
meros receptores de algo que penetrou meu corpo e ativou um dispositivo até
então desconhecido, capaz de desligar os sentidos para qualquer outro foco que
não ela.
E ela
parecia ter vida, parecia sorrir pra mim, parecia falar comigo. Por um
instante, senti tocar sua mão, um instante longo o suficiente para pensar em
duas dúzias de coisas pra fazer, pra falar. Ela parecia ter cheiro, e eu a
senti do meu lado como se dentro de mim, obrigando meu coração a trabalhar à
força máxima, bombeando sangue e nervosismo por todo o meu corpo.
Senti
sua mão deixando a minha, senti sua voz ficando em memória, senti o meu corpo
voltando pra mim, senti que um sonho ali eu vivi admirando o que de mais belo meus olhos já viram.
1. O Quarto de Van Gogh
2. Monalisa de Leonardo Da Vinci
3. O Grito de Edvard Munch