segunda-feira, 11 de junho de 2012

A Noite

                Céu escuro, noite fria, dois corações descompassados com a proximidade de seus corpos. A mente não acredita que depois de dias de escuridão suas retinas capturaram aquela imagem tão aguardada, tão desejada.

                Palavras interrompidas com o tocar dos lábios. Elas eram inúteis naquele momento tão esperando pelos dois amantes. Pra quê falar? Pra quê olhar? Pra quê pensar?

                Dois corpos guiados pelo desejo de amar e ser amado proporcionaram momentos inesquecíveis quando foram transportados para um pequeno planeta de dois habitantes.

                Foi lindo, especial. Até que simultaneamente fomos trazidos de volta para aquele quarto, num instante que tirou do eclipse entre o sol e a lua, o titulo de fenômeno mais sublime da natureza. Porque não tiramos o brilho um dos outro, fazemos um ao outro brilhar mais intensamente.

                Já não sou mais eu, já não és mais tu, somos as duas únicas peças de um quebra-cabeça que quando juntos, completam a felicidade.

quinta-feira, 31 de maio de 2012

Sonho

Quando criança, eu sonhava com aquilo que seria “perfeito”, que fosse resposta caso alguém me perguntasse o que eu queria ser quando crescer. Essa pergunta nunca veio, e a resposta, acabou esquecida num cantinho de um baú onde ficam guardadas as lembranças.

Muito tempo depois, aprendi até onde um homem pode ir por um sonho. Foi quando o medo de ser ninguém permitiu que eu deixasse de ser o que o mundo queria que eu fosse para ser aquilo que eu queria ser. Voltei a sonhar, mas não só a sonhar, passei a ser guiado pelos meus sonhos, e eu só sonhava (e sonho) em ser feliz.

Diferente dos filósofos (até porque eu não o sou), penso que a felicidade (ou o meu sonho), não se trata de algo abstrato, pelo contrario, a felicidade nada mais é, que a soma de dois mais dois. Algo que precisa ser dividido pra ser multiplicado.

Comecei uma busca por aquela com quem eu sonharia, dividiria a felicidade, só que a vida, em sua sapiência, tratou de me ensinar que não é o homem quem inventa o sonho, mas  o sonho que inventa o homem.

Foi quando lembrei de um sonho antigo, empoeirado, esquecido. O sonho que me fez ser quem eu sou, que quando criança era resposta pros outros, e que agora, era resposta pra mim.

Voltei a sonhar este sonho, que tirou a trave que tinha em meus olhos, revelando-se já presente em minha vida. E a revelação foi bela, por completa, em forma feminina, em forma de menina, em forma de mulher, me encantando com a simplicidade da resposta, e fazendo me achar um completo tolo por passar anos para perceber o quanto é dois mais dois.

Hoje não quero outra coisa, se não viver a simplicidade deste sonho, com a certeza de ter descoberto o sentido dado por Deus para a vida.
Neyl Santos

terça-feira, 13 de março de 2012

Vê-la

Vê-la
Neyl Santos

Há quem passe horas em frente ao Quarto¹, outros que ficam hipnotizados diante da Monalisa², e ainda aqueles que com o mundo explodindo não tiram os olhos do Grito³.

                Meus neurônios nunca entenderam tanta admiração, nunca viram sentido nesse tipo de coisa, até que meus olhos, pobres por natureza, avistaram o que pra mim, não é nada menos que a obra prima do criador. Minhas retinas foram expostas ao que há de mais sublime, de mais perfeito. E eu fiquei ali, durante longos instantes, verificando cada milímetro quadrado daquela figura feminina. Pude então perceber, a magia transmitida até os meus olhos que funcionaram como meros receptores, meros receptores de algo que penetrou meu corpo e ativou um dispositivo até então desconhecido, capaz de desligar os sentidos para qualquer outro foco que não ela.

                E ela parecia ter vida, parecia sorrir pra mim, parecia falar comigo. Por um instante, senti tocar sua mão, um instante longo o suficiente para pensar em duas dúzias de coisas pra fazer, pra falar. Ela parecia ter cheiro, e eu a senti do meu lado como se dentro de mim, obrigando meu coração a trabalhar à força máxima, bombeando sangue e nervosismo por todo o meu corpo.

                Senti sua mão deixando a minha, senti sua voz ficando em memória, senti o meu corpo voltando pra mim, senti que um sonho ali eu vivi admirando o que de mais belo meus olhos já viram. 



1. O Quarto de Van Gogh
2. Monalisa de Leonardo Da Vinci
3. O Grito de Edvard Munch